Carta de Dom Esmeraldo ao povo da Diocese de Santarém‏

Dom Esmeraldo

Aos Irmãos e Irmãs na Diocese de Santarém.

“A cada um o Senhor deu sua tarefa: eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. De modo que nem o que planta nem o que rega são, propriamente importantes. Importante é aquele que faz crescer: Deus. (…) Nós somos cooperadores de Deus” (1Cor 3,5-7.9).

Em fevereiro de 2007, quando estávamos para iniciar a Campanha da Fraternidade sobre a Amazônia que trazia o lema: “Vida e missão neste chão”, recebi a carta do Papa Bento XVI pedindo que deixasse a Diocese de Paulo Afonso, no sertão da Bahia e viesse servir à Diocese de Santarém, bem no coração da Amazônia.

Vivendo o ano missionário e meditando muitas vezes o Evangelho que narra o envio dos setenta e dois discípulos feito por Jesus “a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir” (Lc 10,1), nesse contexto de missão, o Papa Bento XVI me escreve dizendo: em razão da renúncia, por idade, de D. Moacyr Grechi,  você está nomeado para a Diocese de Porto Velho, em Rondônia.

Isto significa que, mais uma vez, a palavra bíblica: “Levanta-te e anda” (At 3,6) me é dirigida para que possa acolhê-la em minha vida. Com muita humildade e confiança no Espírito Santo, protagonista da missão, recebo esse insistente convite como um chamado de Deus nosso Pai, na certeza de que estou indo não em nome próprio, mas como caminho do seguimento a Jesus Cristo que nos chama e envia para onde ele mesmo deve ir. O missionário está sempre aberto ao chamado de Deus para realizar a vontade daquele que o envia (cf. Heb 10,7). Ele medita a sua Palavra e faz a experiência de que a missão não se resume a algumas atividades, a alguns momentos ou lugares, mas é entrega do seu ser e viver, pois é a missão que determina sua vida. Com Maria, a serva do Senhor, a Mãe Missionária, o missionário aprende a proclamar: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

Quando vim para Santarém, vim com muita alegria e agradeço a Deus que me concedeu a graça de viver esse tempo nesta Diocese, experimentando a cada dia o que significa ser missionário na Amazônia. Agradeço ao nosso Pai bondoso pelas comunidades presentes nas cidades e no interior: são um sinal vivo de como a força do Evangelho transforma pessoas e as torna dedicadas à missão. Estive em uma boa parte delas. Vi animadores e animadoras, catequistas, responsáveis por pastorais, membros de movimentos, de equipes de serviço e de grupos empenhados em colaborar para o fortalecimento da comunidade  e, ao mesmo tempo, conscientes de que a missão, de modo especial na Amazônia, implica lutar pela dignidade da vida das pessoas pela defesa e preservação do meio ambiente, contribuindo para que a nossa sociedade seja realmente justa, solidária e pacífica.

Guardo no coração tantos testemunhos que me fazem, a cada dia, louvar a agradecer a Deus que tem inspirado esses cristãos leigos e leiga, sustentáculos do trabalho de evangelização, mesmo ali onde a presença do padre só é possível uma, duas ou três ao ano.

Obrigado, Senhor pelos religiosos Franciscanos, Verbitas, Irmãos de Santa Cruz e pelas  Religiosas Missionárias da Imaculada Conceição (ISMIC), Adoradoras do Sangue de Cristo, Franciscanas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, Franciscanas de Maristela, Irmãs da Sagrada Família, Irmãs de São José, Irmãs Franciscanas de Alegany, Irmãs Franciscanas Angelinas e Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que se preparam para servirem a esta diocese a partir de 2012. Não poderia deixar de mencionar o Irmão José, monge Trapista.

Elevo a Deus minha ação de graças pelos irmãos padres, colaboradores diretos no trabalho de evangelização, numa missão tão fundamental de presidir as comunidades e articular a ação evangelizadora: Pe. Luis Pinto (Vigário Geral), Frei Gregório (Coordenador Diocesano de Pastoral), Pe. Carlos Antonio (Ecônomo), Pe. Edilberto Sena (Diretor da Rádio Rural de Santarém), Pe. José Ronaldo (Pároco da Catedral), Pe. Alaelson e Pe. Walter (respectivamente Reitores dos Seminários S. Pio X e São Gaspar), Pe. Ademar, André Carlos, Antonio Claudio, Antonio Jorge, Armstrong Feitosa, Auricélio Paulino, Francisco Pedroso, Gonzaga Vidal, Hesron Wagner, Ivair, Jorge Torres, Juscivaldo Peixoto, Luis Carlos, Odirley Maia, Raimundo Matias, Rosivaldo Correa, Rubinei Valente Coelho, Sidney Canto, Valdir Serra, aos Diáconos Raimundo Nélio e Marcílio Pedroso e ao seminarista Alessandro que se prepara para o Diaconado.

Não nos faltou nesse tempo a oração pelas vocações ao ministério ordenado. E Deus nos tem dado Seminaristas que descobrem e assumem o ser missionário como constitutivo da vocação e da missão que procedem de Jesus Cristo, o missionário do Pai.

Nesta diocese, Deus me fez ver o quanto é grande a família de um missionário, pois multiplicou em muito os irmãos, irmãos, pais e mães. O povo da diocese, pelo seu carinho e pela boa acolhida, tem sido uma verdadeira família.  

Agradeço e, ao mesmo tempo, peço a Deus pelos funcionários da Diocese de Santarém, profissionais da comunicação, da área da saúde, da educação e demais setores que estiveram presentes nesse tempo.

Os irmãos bispos do Oeste do Pará: D. Martinho, D. Capistrano, D. Erwin, D. Bernardo, D. Wilmar e todos os bispos do Regional a começar pelo Arcebispo Metropolitano de Belém fazem parte do meu agradecimento a Deus, inclusive  D. Lino, de saudosa memória.

Minhas palavras não traduzem toda minha gratidão: somente Deus poderá recompensar cada um de vocês e firmar seus passos no caminho missionário.

Peço também perdão a Deus, pois sei que não me empenhei o tanto quanto pedia e pede a Diocese de Santarém que sempre teve uma caminhada evangelizadora tão bonita.

Hoje é dia de Santo André, apóstolo de Jesus Cristo.

Ele foi chamado por Jesus Cristo para que pudesse segui-lo. O Evangelho nos diz que: “Caminhando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e o irmão deste André, lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. Então, disse-lhes: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram.”  (Mc 1,16-18).

A exemplo de Santo André, sou chamado a escutar a voz de Deus que, mais uma vez me diz: “Levanta-te e anda” (At 3,6), “sê forte e corajoso” (Deut 31,23)

Ao receber a carta de transferência, confesso que não entendi porque. Na minha oração, me veio a inspiração:

Quando o Senhor guia a nossa vida

Não nos cabe marcar o que vai acontecer.

É um Mistério. Deus sabe o que faz.

É preciso ler aí o que ele nos quer dizer!

Na Bahia escutei: “levanta-te e anda”,

Na Amazônia experimentarás: “vida e missão neste chão”,

Em meio a tantos rios: Amazonas, Tapajós, Arapiuns, Ururará.

Entrei na barca do Senhor para aprender a alargar o coração.

Que desígnios insondáveis, Mistérios tão profundos

O Espírito escreve em nosso dia a dia.

No seguimento a Jesus missionário

Descobrimos e assumimos: é ele quem nos guia

Obrigado, Santarém, seu povo sua gente,

Diocese que se empenha em viver a missão

Leigos, religiosos e padres dinamizando comunidades

Sinal do Evangelho, semente de Deus em ação.

Deus abençoe crianças, jovens, famílias, idosos.

Rezem também por mim. Isto sempre pedi a muitas pessoas, especialmente quando via alguém com o terço na mão. Sei que a missão em Porto Velho é muito desafiadora, porque o é em toda a Amazônia.

Como o agradecimento se volta sempre para Deus, de coração, com muita sinceridade, peço: vamos agradecer a Deus; nada de homenagens a quem está indo para outro lugar missionário na Amazônia. Se há uma palavra a dizer: digo eu e digamos todos:

Obrigado, Senhor!

Fonte: RG 15/O Impacto e Pascom 

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