Primeira fase internacional da Lava-Jato prende operador em Lisboa

Raul Schmidt Felippe Junior
Raul Schmidt Felippe Junior

A força-tarefa da Operação Lava-Jato prendeu na madrugada desta segunda-feira, em Portugal, o operador financeiro Raul Schmidt Felippe Junior, que estava foragido desde julho de 2015. Schmidt foi preso preventivamente, sem prazo para vencer. Esta foi 25ª fase da Lava-Jato e a primeira operação internacional desde o início das investigações.

Schimidt é suspeito de envolvimento em pagamentos de propinas aos ex-diretores da Petrobras Renato Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão envolvendo o investigado, mas os locais não foram informados. Ele foi preso em seu apartamento, em área nobre de Lisboa, avaliado em 3 milhões de euros.

Além de atuar como operador financeiro no pagamento de propinas aos agentes públicos da Petrobras, ele também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração de plataformas da estatal, de acordo com o MPF.

Em agosto do ano passado, o juiz Sérgio Moro já havia decretado o bloqueio de ativos de R$ 7 milhões de Raul Schmidt. Na época, ele era apontado pela investigação como “parceiro” de Jorge Zelada, ex-diretor da área de Internacional da Petrobras, em operações de lavagem de dinheiro.

A participação de Raul Schmidt no esquema de corrupção da Petrobras foi reforçada em agosto do ano passado, quando uma investigação na Noruega confirmou que a empresa Sevan Drilling, do grupo Sevan Marine, uma das principais empresas do setor de petróleo do país, pagou propina para garantir contratos com a Petrobras. No Brasil, a Sevan Drilling teria feito o pagamento através de Schmidt, que representou a empresa até 2007.

Segundo os investigadores, Schmidt “ajudou” a Sevan Marine em 2008 a assinar um contrato de US$ 975 milhões com a Petrobras para fornecer equipamentos em operações de exploração em águas profundas. Em um comunicado, no ano passado, a Sevan Marine informou que uma auditoria interna encontrou desconformidades na empresa que foram comunicadas às autoridades norueguesas.

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

A deflagração da operação foi um trabalho conjunto entre Portugal e Brasil. O cumprimento das medidas foi feito pela polícia judiciária portuguesa e pelo Ministério Público do país. Autoridades brasileiras do MPF e da PF acompanharam as diligências. Cumpridas as medidas cautelares, o Brasil dará início ao processo de extradição.

Raul Schimidt é brasileiro e também possui nacionalidade portuguesa. Segundo o MPF, ele vivia em Londres, onde mantinha uma galeria de arte, e se mudou para Portugal, após o início da operação, em virtude da dupla nacionalidade. O nome de Raul Schmidt já havia sido incluído no alerta de difusão da Interpol em outubro do ano passado.

SOCIEDADE INTERNACIONAL

Ainda segundo o MPF, Raul Schmidt é sócio de Zelada na empresa TVP Solar do Brasil, subsidiária da empresa TVP Solar, uma sociedade de tecnologia ligada à utilização de energia solar térmica, sediada em Genebra. A empresa pode ter sido usada para lavar dinheiro desviado da Petrobras.

Os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato afirmam ainda que o operador tem ligação com a Samsung, estaleiro responsável pela construção dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000. Auditoria da Petrobras aponta que houve pelo menos U$ 11,9 milhões de superfaturamento na construção do Petrobras 10.000. A aquisição do Vitória 10.000 já foi denunciada pela Lava-Jato. Os desvios nos contratos da sonda envolvem o pagamento de U$ 40 milhões de propina e tiveram a participação de Nestor Cerveró e do operador Fernando Baiano.

“Na documentação enviada por Mônaco consta um contrato de comissionamento envolvendo a Samsung como contratante e duas empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas como contratadas, a Barvella Holding Corp. e a Goodal Trade INC- esta última é uma offshore de propriedade de Raul Schmidt Felipe”, afirmou o MPF no ano passado ao pedir a prisão de Zelada. (*enviado especial).

Fonte: O Globo

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