Manifestantes pedem legalização do aborto na orla de Copacabana

Cerca de 100 pessoas pediram, na Zona Sul, a legalização da prática
Cerca de 100 pessoas pediram, na Zona Sul, a legalização da prática

No mesmo domingo em que o corpo de Jandira Magdalena dos Santos Cruz, vítima de aborto ilegal, foi enterrado na Zona Norte do Rio, cerca de 100 pessoas pediram, na Zona Sul, a legalização da prática. A manifestação também lembrou a data, já que 28 de setembro é o dia Latino-americano e Caribenho pela Legalização do Aborto.

A ação foi idealizada pela estudante Isabella Medeiros, de 18 anos, que criou evento pelo Facebook nesta semana. Em poucos dias, ativistas em outras partes do Brasil a procuraram para marcarem manifestações conjuntas. Neste domingo, houve protestos também em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Isabella Medeiros convocou manifestação pelo Facebook e se disse surpresa com o resultado - Marcos Tristão - Agência O Globo
Isabella Medeiros convocou manifestação pelo Facebook e se disse surpresa com o resultado – Marcos Tristão – Agência O Globo

– No início, quando decidi marcar o ato, eu me senti um pouco sozinha. Mas logo depois as pessoas começaram a entrar em contato comigo, por telefone e pelo Facebook. Fiquei muito feliz e surpresa com o resultado – conta Isabela.

Em Madrid, na Espanha, ativistas também foram às ruas para comemorar a desistência do governo de Mariano Raray de reformar as leis de aborto.

Já em Copacabana, os manifestantes pediram para que a prática do aborto seja legalizada e oferecida pelo Sistema Único de Saúde, a fim de evitar que novas mortes como a da Jandira ocorram. Atualmente, o direito brasileiro permite o aborto em caso de estupro, gravidez de risco para gestantes e fetos comprovadamente anencéfalos. Esse último foi legalizado pelo Supremo Tribunal Federal em abril de 2012.

– Queremos um procedimento público, gratuito e seguro. Hoje uma mulher rica vai a uma clínica e consegue abortar pagando alto, mas as pobres têm que recorrer a outros métodos, e muitas acabam morrendo, como a Jandira – diz Isabella.

Apesar de quase duas mil pessoas terem confirmado presença no evento que convocava a manifestação pelo Facebook, apenas poucas dezenas compareceram desde o início do ato. No posto 6, o grupo começou confeccionando cartazes e pinturas pelo próprio corpo, como o “Meu Útero é Laico”. Por volta das 15h, os manifestantes iniciaram a marcha no sentido Leme, arregimentando simpatizantes que caminhavam pela orla.

A grande maioria dos participantes era de jovens do sexo feminino, mas os poucos homens presentes não fizeram por menos. Com a inscrição “Homem também aborta” pintada no peito, o estudante Caio Felipe Araújo, de 17 anos, explica que o público masculino também deve ser parte do processo de aborto:

– O homem tem que dar auxílio e apoiar a companheira, mas a decisão de abortar tem que vir principalmente da mulher, que é a pessoa que mais sofre depois – afirmou Caio.

Os manifestantes ressaltaram, porém, que a bandeira da legalização do aborto não pretende substituir nem diminuir a importância de métodos contraceptivos. Uma das participantes da marcha, a professora de Economia da UFRJ, Lena Lavinas, lembra que os recursos disponíveis não são suficientes hoje para impedir a gravidez involuntária.

– Achar que métodos contraceptivos são suficientes para prevenir gravidez é uma visão equivocada. O acaso acontece, mesmo com toda a precaução. Por isso estamos aqui para garantir a saúde da mulher que queira recorrer ao aborto. Desde dezembro de 2012, quando o aborto foi legalizado no Uruguai, nenhuma mulher morreu em decorrência da prática.

PASTORA ABORTA 7 VEZES E SE ARREPENDE

Uma das pessoas que transitava pela orla de Copacabana no domingo e se deparou com a manifestação foi Jussara Santos Cardoso, pastora da igreja pentecostal Arca do Concerto. Vestida com uma túnica que representa Moisés, Jussara caminhava pregando suas crenças pelo calçadão até que parou para ler parte dos cartazes pró-aborto. Ela ficou alguns segundos em silêncio, meditou e retomou sua peregrinação pela Avenida Atlântica.

Em entrevista ao GLOBO, ela disse já ter abortado sete vezes quando “era do mundo”, mas hoje se arrepende.

– Já abortei muito, mas eu era do mundo. Hoje eu vejo que é um crime, estão matando um anjo. Só quem deve dar a última palavra sobre a vida de alguém é Deus.

Fonte: O Globo

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