Advogado: “Burocracia da prefeitura prejudica legalização de imóveis”

Dr. Hiroito Tabajara diz que falta vontade política para resolver questão fundiária de Santarém
Dr. Hiroito Tabajara diz que falta vontade política para resolver questão fundiária de Santarém

O advogado Hiroito Tabajara, em entrevista exclusiva à nossa reportagem, fala sobre o grave problema de regularização dos imóveis em Santarém, causado pela grande burocracia do poder público municipal. Veja a entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: Percebemos que ultimamente Santarém vem sofrendo uma onda de invasões, a que se deve esse fenômeno?

Dr. Tabajara: Primeiramente, ouso discordar de sua afirmação de que “ultimamente Santarém vem sofrendo uma onda de invasões”, porque na verdade Santarém, praticamente em sua totalidade, é fruto de ocupações, são poucos os imóveis devidamente regularizados pelo poder público, ou seja, o imóvel que não esta regularizado, com Título Definitivo e devidamente escriturado no Cartório de Imóveis, é ocupação, é fruto da posse.

Jornal O Impacto: O senhor está afirmando que em Santarém existem mais posseiros do que proprietários?

Dr. Tabajara: Isso mesmo, e não tenho qualquer dúvida a esse respeito. Solicito permissão para uma pergunta e peço que cada um faça ao seu vizinho, a pergunta é a seguinte: o seu imóvel tem Título de Definitivo? O seu Imóvel tem Registro no Cartório de Imóveis? Se a resposta para uma dessas perguntas for “não”, então, estaremos diante de uma posse, na verdade, a título de esclarecimento, o que garante a propriedade é o registro no Cartório de Imóveis, o que não estiver registrado pode ser entendido como posse ou ocupação.

Jornal O Impacto: Mas eu tenho o recibo de compra e venda do meu terreno, eu tenho o documento, não invadi, não ocupei, eu comprei e tenho o recibo como já falei, então, eu não sou ocupante ou sou?

Dr. Tabajara: Veja bem, você me diz que tem o recibo de compra e venda de seu imóvel. Pelo que entendi, você comprou de alguém, e talvez esse tenha comprado de outro e assim vai, mas, na verdade se você não tem o Registro de Imóvel de seu terreno, dessa forma, você é tão posseiro quanto um que está ocupando um imóvel dito de ocupação, pois nas ocupações algumas pessoas também vendem os imóveis que ocupam e passam recibo de compra e venda do imóvel, sem no entanto esse recibo valer como documento de propriedade.

Jornal O Impacto: Quer dizer que recibo de compra e venda não serve para nada?

Dr. Tabajara: Não é isso! Apenas disse que este documento não lhe garante a propriedade do imóvel, pode ser utilizado, por exemplo, como prova de sua posse sobre o terreno. Para você ter certeza do que estou falando, tente dá como garantia seu imóvel em um empréstimo bancário, e lhe adianto que o banco irá recusar porque o seu “documento” não serve como garantia de propriedade, e para o banco o que interessa é a propriedade não a posse ou ocupação.

Jornal O Impacto: A que se atribui a falta de documentação dos imóveis em Santarém?

Dr. Tabajara: Acredito que podemos citar pelo menos dois fatores: O primeiro seria uma questão cultural, as pessoas não estavam habituadas a procurarem regularizar seus imóveis, todos se conheciam e todos respeitavam os limites uns dos outros, porém, isso foi há muito tempo, mas mesmo assim esse costume ainda perdura na cultura local. Outro fator é a ausência de política pública voltada para a regularização fundiária, deixando a cidade se desenvolver sem se preocupar com a regularização fundiária das áreas, deixando para os particulares irem continuando com o costume de que a posse vale tanto quanto a propriedade.

Jornal O Impacto: Qual a sua avaliação sobre a política de regularização fundiária do atual governo, fazendo um paralelo com o anterior?

Dr. Tabajara: Primeiramente deixo claro que não existe política de regularização fundiária neste governo, assim como não existia nos anteriores, porém, no governo anterior devemos reconhecer que houve um grande avanço com a facilitação para a regularização dos imóveis e muitas pessoas puderam finalmente regularizar seus bens. Esse avanço foi travado no atual governo que emperrou a emissão de títulos e vem dificultando o máximo a regularização dos imóveis, o que ocasiona um prejuízo imenso para as famílias que querem ter o seu imóvel regularizado, assim como para a Prefeitura que deixa de arrecadar com a alienação de um bem que já esta ocupado, e por vezes a décadas.

Jornal O Impacto: E como resolver a questão dos imóveis nos bairros que estão dentro da área conhecida como “área dos portugueses”, que abrange vários bairros de Santarém?

Dr. Tabajara: Esse é um problema que esbarra na falta de interesse político para a sua solução. Temos instrumentos legais que o poder público poderia utilizar para regularizar os imóveis das pessoas dessas áreas, temos o Estatuto das Cidades, temos a Lei Federal nº 11.977/2009 que define a regularização fundiária, mas não temos a vontade política para a solução desse grave problema que aflige milhares e milhares de pessoas de nossa cidade. Volto a afirma: Falta vontade política para se resolver a questão fundiária de Santarém.

Por: Edmundo Baía Junior

10 comentários em “Advogado: “Burocracia da prefeitura prejudica legalização de imóveis”

  • 10 de maio de 2016 em 11:11
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    Esse assunto merece ser abordados mais vezes, louvo a iniciativa do jornal e deixo meus cumprimentos ao advogado Hiroito Tabajara pela forma lúcida de esclarecer as perguntas formuladas.

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  • 9 de maio de 2016 em 18:11
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    Simples e direto, sem enrolação, gostei de ler e concordo plenamente com o o que foi dito.

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  • 8 de maio de 2016 em 23:20
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    Santarém realmente é fruto de invasões, ali perto do Hotel Tropical é tudo área invadida, no Bairro Maracanã grande parte das áreas é invadida e pertence a um homem dono de uma empresa de reciclagem, no Bairro da Área Verde uma parte pertence a um homem e outra aos portugueses, WP Campos é dono de grande parte do bairro da liberdade

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  • 8 de maio de 2016 em 09:36
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    Muita gente realmente confunde posse e propriedade, inclusive eu, essa entrevista esclareceu algumas dúvidas que eu tinha, agora sei que não tenho o documento de meu terreno apenas um documento que diz que eu comprei a posse de alguém.

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  • 7 de maio de 2016 em 16:34
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    Interessante essa entrevista com o Dr Tabajara…Parabens! Tantas coisas importantes que os próprios donos de imoveis nao sabem…

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  • 7 de maio de 2016 em 14:31
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    Esse prefeito leva os documentos para assinar em casa, perde os documentos e quem fica no prejuízo são os corretores e os donos dos imóveis.

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  • 7 de maio de 2016 em 14:06
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    Realmente muita gente pensa que recibo de compra e venda é o ducumento do terreno e passa a vida toda sem documentar os imóveis e, para piorar esse governo do Bom Preguiçoso atrapalha e dificulta a vida de quem quer legalizar seus imóveis.

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  • 7 de maio de 2016 em 12:51
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    Parabéns pela coragem do Dr Tabacaria em falar de um assunto que está prejudicando centenas de corretores de imóveis em Santarém mais ninguém fala nada a respeito com medo de ser ainda mais perseguido pelo governo municipal.

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  • 6 de maio de 2016 em 00:12
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    Entrevista muito lúcida e esclarecedora, tirou muitas dúvidas, o jornal devia contratar o Dr Tabajara para escrever mais sobre assuntos jurídicos, ele fala de maneira que se entende o que é dito.

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  • 5 de maio de 2016 em 22:28
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    Falou bem explicadinho, gostei de lê, sem enrolação para a gente que não é advogado entender.

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