Alerta – Água consumida no Pará não é mineral e nem potável

Em Santarém, consumo de água mineral é bastante grande
Em Santarém, consumo de água mineral é bastante grande

Por essa a população do Pará não esperava. A água mineral comercializada em nosso Estado é ácida, e não atinge o grau apropriada para o consumo humano, segundo pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA), divulgada este mês. O assunto foi discutido na segunda-feira, durante as atividades da Semana do Meio Ambiente “Qualidade das águas de Belém: Eu me preocupo”, realizada pela universidade. O evento ocorreu no auditório David Mufarrej da Universidade da Amazônia (Unama), no Umarizal, e seguiu até terça-feira aberto ao público. O estudo foi feito pelo laboratório de hidroquímica da UFPA com dados coletados a partir da análise das águas vendidas em supermercados de Belém.

Segundo a pesquisa, o resultado aponta que as sete empresas do setor no Estado comercializam água imprópria para o consumo, pois o pH – índice que aponta a acidez da água – estaria entre 3,75 e 4,5, abaixo do ideal considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, que determina que a água para consumo humano deve ter o valor do pH entre 6 e 9,5.

Doutor em hidrogeologia e orientador da tese de pós-graduação que resultou na pesquisa, Milton Matta informou que um estudo anterior, feito em 2005, já havia atestado que a água consumida pelo paraense não era mineral e nem potável. Na época, todas as quatro empresas fornecedoras do produto no Estado foram analisadas e apresentaram os mesmos problemas. “Primeiro, nenhuma das águas é mineral. Quer dizer, não tem nenhuma mineralização. Técnicamente, de acordo com a legislação vigente, elas não podem ser consideradas mineral. Então, teria que tirar a palavra ‘mineral’ do rótulo”, explicou o palestrante sobre o assunto. Naquele ano, o Ministério Público do Estado deu o prazo de 120 dias para que as empresas retirassem a característica “mineral” do rótulo.

Sem revelar os nomes de todas as empresas pesquisadas em 2014, Matta declarou que nenhuma delas respondeu às tentativas de contato da universidade e nem autorizou a visita de equipes técnicas da instituição às fontes. O professor reforçou que a população não deve consumir essa água, a fim de evitar doenças de veiculação hídrica, como gastrite, úlcera e câncer gástrico. “Não estou sendo leviano em dizer que isso é por causa da água. A gente está começando um projeto na universidade, junto com o pessoal da Medicina e da Biomedicina, para saber se realmente é verdade”, esclareceu. O alerta do professor é ainda mais importante, considerando que o Pará é o segundo Estado brasileiro com mais casos de câncer de estômago registrados no País.

Enquanto o problema não é resolvido, a orientação do especialista é que o paraense consuma água oriunda de filtros purificadores de água, que aumentam o pH da água para transformá-la em alcalina, como alternativa provisória para o “caso de saúde pública”, como se referiu à água disponível no mercado paraense. “A Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) e os órgãos públicos têm que fazer poços profundos, acima de 180 metros ou 250 metros. Aí a água vai ser alcalina, que é o que a gente quer, com pH acima de 7. PH de zero a 7 é ácido, e de 7 até 14 é alcalina”, explicou.

Apesar de em Santarém não haver pesquisas hidroquimicas sobre as águas minerais produzida e comercializada no Município, as prateleiras de supermercados apresentam marcas de águas minerais com pH que variam de 4 a 4,65, o que está muito abaixo do recomendado pelos especialistas. Mesmo situado em uma das regiões Hidrogeologicas mais importantes do planeta, a população paraense ainda sofre com mazelas e descasos, quando o assunto é água potável.

O Código de Água Mineral estabelece que a água com característica mineral deve ser extraída abaixo da superfície, no mínimo em 25C°. No entanto, em termos que qualidade para o consumo o pH ideal varia entre 7 e 14.

Em nossa região, que possui o maior aqüífero de água doce do mundo, Alter do Chão, o descaso com a utilização da água implica em problemas relativos à saúde e a qualidade de vida da população. Com informações do G1.

UFOPA FEZ ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE ALTER DO CHÃO: Por determinação do Ministério Público Estadual (MPE), no mês de fevereiro deste ano, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) realizou a análise microbiológica da água de 14 pontos da vila de Alter do Chão – a cerca de 40 km de Santarém. As análises foram feitas no Laboratório de Ensino Interdisciplinar em Biologia Aplicada, por meio da técnica de tubos múltiplos (NMP/100 ml), sob a responsabilidade da Prof. Graciane Fernandes (ICTA). O pedido de análise foi motivado pelo surto de hepatite A registrado na vila, e que poderia estar sendo causado pela água contaminada.

As amostras de água foram coletadas em locais determinados pelo Ministério Público e incluíram a maior escola municipal da vila (Antônio Pedroso), torneiras que recebem água do microssistema de abastecimento e as torneiras que abastecem algumas barracas da praia da Ilha do Amor, localizada em frente à vila.

No relatório de ensaio que foi enviado ao MPE, a Profª. Graciane Fernandes esclarece que, conforme os parâmetros considerados, as amostras analisadas não estão em conformidade com a legislação vigente, pois em mais de 80% das amostras foi detectada a presença de coliformes totais e de termotolerantes. Os parâmetros foram baseados na Resolução nº 357 (2005) do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

COMO FOI FEITA A ANÁLISE: A técnica de tubos múltiplos (NMP/100ml), ou seja, o número mais provável, possibilita determinar uma estimativa da quantidade de micro-organismos presentes nas amostras. “Pelo número de tubos positivos em cada uma das diluições empregadas determina-se o número mais provável por mililitro de água, tendo como base a tabela estatística de Hoskins para três, cinco ou dez tubos. Por esta técnica pode-se obter informações sobre a população presuntiva de coliformes (teste presuntivo), e sobre a população de coliformes de origem fecal (coliformes termotolerantes)”, informa o relatório. As amostras analisadas apresentam o (NMP totais/100ml) variando entre 20.000 e 6.100. O máximo permitido de NMP/100 ml pela resolução do Conama é de 200 NMP/100 ml para que a água (classe 1) seja considerada potável.

“Todos os resultados de todas as amostras apresentaram contaminação, tanto por coliformes totais, quanto por termotolerantes”, explicou na época Graciane Fernandes; e ela completou: “O grau de contaminação variou bastante de uma mostra para outra. Analisando o cenário como um todo, a partir desses resultados, é algo muito preocupante. Porque muitas das amostras coletadas são de água utilizada diretamente para consumo pela população, sem passar por nenhum tipo de tratamento”.

A professora alertou, ainda, que a água é um dos principais meios de contaminação: “A maioria das doenças são transmitidas por meio de fontes hídricas, por isso, trata-se de um caso de saúde pública em que população, comunitários e poder público devem se unir numa força-tarefa para atuar na gestão desse recurso.

Coliformes fecais ou coliformes termotolerantes são coliformes capazes de se desenvolver e fermentar a lactose com produção de ácido e gás a temperaturas que variam de 44,5 a 0,2 ºC. O principal componente deste grupo é Escherichia coli, sendo que alguns coliformes dos gêneros Klebsiella e Citrobacter também apresentam essa capacidade.

Outro fator constatado pelas análises feitas no laboratório da UFOPA, e que consta no relatório enviado ao MPE, é a alteração do Ph das amostras de água. Na época, na vila de Alter do Chão esse índice variou de 2,93 a 6,7, o que representa alterações. “Esses índices de Ph alertaram-nos para alguns fatores ou variáveis de contaminação, o que foi confirmado pelas análises”, disse a professora, que também recomendou que fossem feitas outras análises “fisico-químicas para determinar quais fatores poderiam estar favorecendo que o nível de acidez da água estivesse muito alto”.

PARA ENTENDER O CASO: Em janeiro de 2015, a Divisão de Vigilância Sanitária da Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa) realizou análises na água da vila. De acordo com laudo técnico emitido no dia 15 de janeiro, das seis amostras coletadas, quatro apresentaram presença de Escherichia coli (coliformes). Os locais com contaminação foram: Cabeceira do Macaco, Ilha da Praia do Amor (em frente à vila), próximo às barracas, Praia do CAT (próximo à Praia do Cajueiro) e bebedouros da Escola Municipal Antônio Sousa Pedrosa. Estavam livres da bactéria apenas as coletas oriundas do microssistema de abastecimento que distribui água para algumas residências e alguns estabelecimentos comerciais da vila. Desde então, na escola, que recebe 667 alunos, em três turnos, os bebedouros foram interditados. “Os alunos estavam bebendo água mineral que a escola adquiria no comércio local”, informou o vice-diretor Pedro Aleixo Reis. Ele disse, também, que na escola não foram identificados alunos com os sintomas da hepatite A.

De acordo com o diretor da DIVISA, João Alberto, ações emergenciais de saúde foram colocadas em prática na vila de Alter do Chão. O posto de saúde foi equipado para atender os casos de hepatite A, que por ventura fossem diagnosticados, disse ele. “Realizamos exames em grupos de risco como catraieiros, cozinheiros e outros profissionais para saber se estavam com a doença. Nada foi comprovado”, declarou João Alberto.

Entre as ações preventivas, João Alberto destacou o minicurso de manipulação de alimentos, oferecido aos donos de restaurantes e funcionários, a distribuição de hipoclorito para a população e alertas acerca da destinação do lixo. O diretor alertou a população para a necessidade de cuidados como: “deixar de fazer as necessidades básicas direto no rio, evitar deixar lixo espalhado pela rua e, principalmente, não ingerir água sem saber a procedência”. Isso evitaria mais contaminação. O diretor da DIVISA informou que o monitoramento da água da vila, desde essa época, está sendo feito mensalmente.

Num simples passeio de catraia (pequenas embarcações a remo que transportam no máximo 4 pessoas para o outro lado da ilha), é possível perceber canaletas de esgoto despejando dejetos no rio. “Aquele ali despeja restos de comida e até óleo dá para ver na água”, denunciou Givanildo Silva, catraieiro que há 15 anos pilota uma pequena canoa de madeira, a mesma que levou nossa equipe para fazer as coletas, naquela época. Ao longo de toda a orla de Alter do Chão, é possível ver esgotos despejando no rio. Os empresários que atuam na vila também ficaram bastante preocupados com a situação. “Não podemos fazer nada sozinhos, precisamos do apoio do poder público. É preciso fiscalizar as embarcações que ficam ancoradas na frente da ilha”, alertou Débora Diniz, proprietária de um dos restaurantes mais freqüentados da vila.

Após inúmeras ações de saúde, o problema de hepatite A na vila de Alter do Chão foi solucionado e o balneário voltou a receber turistas.

COMITÊ DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PODE SER CRIADO: De acordo com a presidência da Câmara Municipal de Santarém, uma audiência será realizada nesta sexta-feira, 26, e vai reunir representantes dos estados do Amazonas, Pará e Amapá. O evento começará às 8h30 e visa principalmente a criação de uma comissão provisória do Comitê de Bacias Hidrográficas da região Norte, visando principalmente a preservação dos rios, com destaque para o Amazonas e Tapajós, que ainda não tem esse instrumento legal, que é previsto em lei. Reginaldo Campos enfatiza que a Agência Nacional das Águas, responsável pela efetivação desse comitê, ainda não tinha promovido esse debate na região. Para o presidente do Legislativo municipal, a criação do Comitê de Bacias Hidrográficas é de real importância, uma vez que hoje o mundo todo está preocupado com o uso da água.

O presidente cita como exemplo a região sudeste do País, que atualmente tem dificuldades de abastecimento de água, para consumo das atividades humanas, agrárias e industriais. “Preocupados com isso, é que estamos trabalhando para criar o Comitê na Bacia Hidrográfica do Tapajós e Amazonas”, defendeu o Vereador. Segundo ele, a preocupação atualmente é de evitar possíveis danos aos rios da região, que podem ser causados por grandes investimentos, dá como exemplo as hidrelétricas que estão sendo planejada pelo governo federal, no alto Tapajós, a passagem de navios nos rios que banham as cidades regionais, a navegação do número excessivo de balsas e a previsão de construção de novos portos, além de fábricas e indústrias que precisam da água e que deve ser regulamentada.

O presidente da Câmara esclarece que através da criação do Comitê de Bacias Hidrográficas, vai ser possível essa regulamentação, para que as atividades que envolvem o uso da água sejam feitas de forma segura, sem que venham causar danos ao meio ambiente, principalmente aos rios e mananciais hídricos.

Para o evento foram convidadas entidades de classe, associações, principalmente aquelas que têm vinculo com a questão ambiental, com as questões hidrológicas.

Por: Edmundo Baía Júnior

Um comentário em “Alerta – Água consumida no Pará não é mineral e nem potável

  • 26 de junho de 2015 em 11:27
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    Para alcalinizar a água em nossa região, onde o PH é 4, basta colocar 2 colheres (20 gr) de bicarbonato de sódio para cada 20 litros de agua, ou seja, 1 grama para cada litro de agua. A grande vantagem da água alcalinizada e o corpo também é que as células cancerígenas não sobrevivem em ambiente alcalino. Lembrando que o alimento do câncer é o excesso de açúcar no organismo.

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