Comandante da PM: “População não deve fazer justiça com as próprias mãos”

Tenente Coronel André Carlos
Tenente Coronel André Carlos

Em Santarém, oeste do Pará, os casos de populares que reagem a assaltos têm se tornados frequentes. No período de um mês, foram pelos menos seis linchamentos cometidos contra acusados de assaltos. Diferentemente de outros casos, em que os bandidos sobreviveram às surras e espancamentos, o acusado de roubo, Ezequias dos Santos Corrêa, vulgo “Neguinho”, morreu após ser pego por populares no local que tentou cometer o crime.
Para o Tenente Coronel André Carlos, Comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, esta é uma situação bastante preocupante, uma vez que a população acaba querendo fazer justiça com as próprias mãos.
“Esse comportamento é reflexo de uma insatisfação da população com o aumento de número de assaltos, muitas vezes por conta das pessoas que andam nas ruas de forma desatentas, distraídas falando no celular, e isso facilita a ação daquelas pessoas que têm a intenção de praticar o assalto. Mas é uma atitude que não é recomendada em hipótese alguma. Nós vemos isso com preocupação, de pessoas saírem machucadas, pessoas serem até mesmo mortas, por um bandido que esteja armado. Recentemente, nós tivemos pessoas que foram esfaqueadas e baleadas quando tentaram reagir a assaltos. Então, em hipótese alguma a população deve reagir, pelo contrário, as pessoas têm que procurar manter a calma, a gente sabe que é difícil, mas devemos procurar manter a calma, procurar observar o máximo de características possíveis daquelas pessoas que estão praticando assalto. Se estão de moto, qual a cor da moto, qual a placa da moto, observar também as vestimentas, capacete, pegar essas informações e repassar para a Polícia, e deixar que a Polícia faz o trabalho de captura. Evitar este tipo de reação, de linchamento, até porque isto pode, também, além da questão de alguém sair machucado, pode reverter, uma vez que aquela pessoa que a princípio seria uma vítima, passar a ser acusada de uma lesão corporal grave, de um homicídio”, esclarece o Comandante.
De acordo com o Tenente Coronel André Carlos, a Polícia Militar trabalha arduamente, dia e noite, para garantir a segurança da população. São policiais que fazem ronda por toda a cidade, e estão preparados para atender as ocorrências, nas mais diversas ocasiões.
“Para o tempo resposta da Polícia Militar fica mais rápido, nós dividimos a cidade em duas grandes áreas, denominada Área Leste e Área Oeste. A 1ª Companhia do Batalhão faz o serviço de rádio patrulhamento na Área Oeste, e a 2ª Companhia do Batalhão faz policiamento na Área Leste. Cada uma destas Companhias possuí 7 viaturas, que são lançadas diariamente com determinadas subáreas, ou seja, a viatura “X”, ela vai ficar só cobrindo a área do Mapiri, a viatura “Y”, vai cobrir a área do comércio, por exemplo, de maneira que se houve acionamento, o tempo de resposta seja rápido. Além das 14 viaturas das Companhias, nós temos as 3 viaturas do Grupo Tático Operacional (GTO), temos as 16 motos, e também 3 viaturas da 4ª Companhia, que seria o policiamento escolar, policiamento turístico e o policiamento de trânsito, que no momento está reforçando o policiamento de rádio patrulha, em virtude de não está com nenhum convênio ativo”, esclareceu André Carlos.
Ainda de acordo com o Comandante, existe uma viatura que cobre somente o centro comercial, garantindo segurança para os lojistas e os clientes que vão ao comércio. E afirma se caso houver necessidade, em um evento de maior vulto, rapidamente desloca viaturas para dar apoio.
“A Polícia Militar está sempre à disposição do cidadão de Santarém. Nós mesmos, do comando do 3º BPM sempre estamos à disposição da comunidade. As pessoas que quiserem vir aqui para dar sugestão, de qualquer assunto relacionado à segurança pública, nós estaremos aqui a para ouvir, trocar idéia e com certeza encontrar a melhor solução, no sentido de levar uma melhor qualidade de vida, no que tange à segurança pública”, concluí o Tenente Coronel André Carlos.
APÓS LINCHAMENTO, ACUSADO DE ROUBO MORRE NO HMS: Na Seccional de Polícia Civil de Santarém, foi registrada a morte de Ezequias dos Santos Corrêa, conhecido no submundo do crime pelo apelido de “Neguinho”. O jovem veio a óbito na segunda-feira, 16, em decorrência do linchamento/espancamento que sofreu no domingo, quando tentava cometer o crime de roubo, e foi pego pela população.
Segundo informou o delegado Germano do Vale, titular da Divisão de Homicídios, a Polícia Civil instaurou inquérito para elucidar o crime, com o objetivo de identificar as pessoas que participaram do linchamento do qual Neguinho foi vítima fatal. “Infelizmente ele cometeu um crime de roubo, e populares o pegaram, aplicaram uma surra de forma exagerada, que o lesionou gravemente. Nós tivemos informações, através do médico legista do CPC, que houve fratura da caixa craniana, o que foi determinante para que evoluísse a óbito”, disse o Delegado.
Germano do Vale esclarece que fazer justiça com as próprias mãos pode ter consequências graves, pois há uma inversão de ocorrências, já que, a princípio quem seria vítima, por exemplo, de um assalto, passa a ser o algoz, e pode ser acusado de homicídio, ou mesmo, de tentativa de homicídio.
“Infelizmente é um reflexo do aumento da violência, os populares estão trazendo pra si, chamando a responsabilidade para fazer justiça com as próprias mãos. A gente vê com tristeza esse aumento da violência, e causa também danos, uma vez que a pessoa que comete este crime, de tentar fazer justiça, aplicando uma surra, que pode levar a morte da pessoa que estava cometendo o crime, o ladrão, do viciado. Quem cometeu o linchamento acaba respondendo, pois será instaurado o inquérito, vai ser responsabilizado criminalmente, e muita das vezes, vai pagar uma pena muito maior, porque, no caso específico do Neguinho, ele assaltou, e em um ato contínuo, não teve tempo de se evadir do local, e os populares chegaram lá e aplicaram uma surra. Se percebermos que o crime cometido por ele, e o crime do qual ele foi vítima, ele seria acusado por roubo simples, e pegaria 4 ou 5 anos de prisão, e quem cometeu a princípio, um linchamento, do qual a vítima evoluiu para um homicídio, poderá pegar uma pena de 12 a 30 anos de cadeia. Então, a gente vê a desproporção das ações, o correto aí seria a detenção, ligar para o 190, e esperar a guarnição, para fazer a condução do local do crime até a Delegacia, para fazer o procedimento, responsabilizar criminalmente, sem, no caso, se envolver”, disse o Delegado Germano do Vale.
Por: Edmundo Baía Junior
Fonte: RG 15/O Impacto

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