Esgoto da Cargill contamina rio Tapajós

Construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro deságua no rio Tapajós
Construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro deságua no rio Tapajós

A construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro da multinacional norte-americana Cargill Agrícola e que deságua no rio Tapajós tem tirado o sono de ambientalistas e de moradores do bairro do Laguinho, em Santarém, no Oeste do Pará. A contaminação, segundo ambientalistas, se agrava durante as chuvas que caem com freqüência na cidade, onde lama, dejetos e restos de material de construção são despejados diretamente no leito do rio Tapajós.

Quem visita o Bosque da Vera, próximo a quadra de esportes, se depara com o esgoto a céu aberto. A obra causa revolta em quem mora ou visita Santarém. Para os visitantes, o paisagismo da cidade também fica comprometido devido o problema de contaminação do rio Tapajós.

Segundo um arquiteto de Santarém, a orla da cidade possui todas as características naturais para ser bonita, enaltecendo a verdadeira “Pérola do Tapajós”. Mas, para ele, infelizmente, os gestores não conseguem manter nem a frente da cidade, o principal cartão postal, limpa, cheirosa e agradável, para que tanto os moradores quanto os visitantes possam curtir as tardes prazerosas e as noites serenas.

Quem caminha pela orla sempre se depara com muita sujeira, peixes podres, fezes das embarcações, buracos, mau cheiro e vegetação agressiva ao ambiente. O arquiteto denuncia que tudo isso foi o que restou de uma praia limpa e branquinha no passado, onde as famílias santarenas se banhavam, o que se consolida numa triste realidade.

Nos últimos seis anos, várias foram as perdas de área de lazer dos moradores do Laguinho e de outros bairros de Santarém, para a empresa portuária Cargill Agrícola.
Entre as perdas está o antigo Campo da Vera Paz, onde dezenas de atletas sugiram para brilhar em vários clubes de Santarém, do Pará e do Brasil. Além da prática esportiva, o Campo da Vera Paz também servia como espaço para a realização de eventos promovidos por moradores do Laguinho.

Uma pessoa ligada ao meio ambiente informou à nossa reportagem que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente está fechando os olhos para esse crime ambiental praticado pela Cargill, pois, segundo essa pessoa, a multinacional teria sido a principal financiadora da recuperação do Centro Municipal de Informação e Educação Ambiental (CIAM), que funciona na antiga garagem da Prefeitura, na orla da cidade.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO: Em agosto de 2009, a Companhia Docas do Pará (CDP) para garantir a escavação de um sítio arqueológico pela Universidade Federal do Pará (UFPA) usou força policial, para conter o protesto dos moradores que reivindicavam o não fechamento do Campo da Vera Paz, no bairro do Laguinho.
Na época, os moradores do Laguinho reclamaram que durante 30 anos, o Instituto de Pesquisas Arqueológicas Nacional (IPHAN) nunca se preocupou de zelar pela área arqueológica da Vera Paz, inclusive quando a CDP arrendou o primeiro lote à Cargill em 1999. Ali, segundo a arqueóloga Anna Roosevelt, havia relíquias indígenas. Porém, Os moradores afirmam que de forma estranha, o IPHAN exigiu cuidar das escavações.
Em 2010 os trabalhos da segunda etapa do projeto de salvamento do sítio arqueológico, localizado no antigo campo da Praia da Vera Paz reiniciou no dia 16 de janeiro e prosseguiu até o dia 5 de fevereiro. O principal objetivo foi buscar informações que pudessem esclarecer o modo de vida dos primeiros habitantes com suas formas de pensar, agir e sobreviver com os recursos oferecidos pela natureza. O trabalho ocorreu sob coordenação da professora Denise Schaan e contou com o auxílio de diversos profissionais em um trabalho minucioso na área do antigo Campo da Vera Paz, onde vestígios marcam a presença de habitantes por volta do século XIII.
Em maio de 2014, a empresa graneleira Cargill anunciou a ampliação do seu porto em Santarém. A iniciativa teve como meta ampliar as exportações de 2 milhões de toneladas por ano para 5 milhões de toneladas de grãos. Na época, a Cargill anunciou que iria gerar 700 empregos na cidade e que iria aumentar o progresso. Dos benefícios que a empresa alegou que traria para a sociedade, um seria o aumento de emprego e renda. Para isso, iria construir mais armazéns, ocupando toda a área da CDP, entre as quais o antigo campo da Vera Paz. Hoje, a população santarena desconfia dos investimentos da Cargill, na orla da cidade, principalmente em relação à questão ambiental, com os impactos causados pelas obras de ampliação do terminal graneileiro.

Moradores revoltados bloquearam PA-370 e pedem desativação do lixão
Moradores revoltados bloquearam PA-370 e pedem desativação do lixão

CONTAMINAÇÃO DE MANANCIAIS PELO LIXÃO DE PEREMA: O elevado nível de contaminação de mananciais, do lençol freático, falta de água potável para o consumo humano, danos ao meio ambiente e ao Lago do Maicá, motivaram os moradores de comunidades da rodovia Santarém/ Curuá-Una (PA-370), localizadas no entorno do Lixão de Perema, a pedir providências por parte dos órgãos competentes.

Os problemas causados pela contaminação das águas geraram protestos dos comunitários, no início desta semana. Na manhã de segunda-feira, 30/03, em forma de protesto, representantes de 20 comunidades da Curuá-Una, bloquearam o acesso ao Lixão de Perema. Eles também chegaram a interditar um trecho da rodovia Curuá-Una, pedindo a desativação do lixão. Após uma reunião realizada na tarde de terça-feira, 31/03, com representantes do governo municipal e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção de Santarém, os manifestantes liberaram o portão de acesso ao local de depósito de lixo.

De acordo com os comunitários, a contaminação atinge desde o bairro do Diamantino até a comunidade de Santana do Ituqui, principalmente com o “estouro” da barragem de chorume que levou forte contaminação ao rio Maicá e ao Lago do Maicá. Os moradores afirmam que crianças estão deixando de ir às aulas, em virtude de problemas de saúde gerados pelo Lixão do Perema, assim como pelo fedor insuportável exalado pela imundice, que tem deixado infantes e idosos com doenças graves, naquela região.

A comunidade denuncia que o Governo Von (PSDB) não está prestando qualquer atenção ao Meio Ambiente e nem aos moradores atingidos diretamente pelo Lixão do Perema, onde crianças e idosos são os que mais sofrem pela poluição que vem do local. Um grupo de moradores, durante a reunião na terça-feira, apresentou reivindicações ao governo municipal, com o objetivo de negociar uma solução para os problemas ocasionados pelo lixão. “É um problema muito antigo. Sabemos que o local é inadequado e sabemos, também, que a Prefeitura tem um prazo para cumprir e retirar o lixão. Aquele lixão a céu aberto é uma situação muito triste porque os microssistemas das comunidades não dão 30 metros de profundidade. A Prefeitura está dando uma proposta que ela vai fazer uma barreira de contenção para que o chorume não baixe diretamente e atinja o lençol de água, mas sabemos que toda aquela água já está contaminada”, disse o presidente da Associação dos Moradores dos Remanescentes Quilombolas de Bom Jardim, Joilson dos Santos.

CONTAMINAÇÃO: No aterro que fica às proximidades da comunidade Estrada Nova, os resíduos que deveriam estar enterrados ficam expostos a céu aberto e o mau cheiro incomoda os moradores. De acordo com eles, o local já deveria ter sido transformado em aterro sanitário, mas até o momento nenhuma providência foi tomada. A presidente da comunidade Estrada Nova, Gilcilene Freitas, afirma que uma determinação expedida pelo MP e enviada à Prefeitura fez um pedido de interdição do local, mas a solicitação não foi atendida. “Foi arquivado e queremos que volte. Estamos reivindicando, nos organizando para novamente lutarmos para que o lixo seja retirado de Perema”, contou.
Desde o início do ano, a Política Nacional de Resíduos Sólidos deveria estar sendo cumprida pelo município de Santarém, mas a situação ainda não mudou em Perema. No local, as pessoas dividem espaço com os urubus e ficam expostas a problemas de saúde. Um lago foi formado por chorume e quando chove toda a água desce para um rio que fica a aproximadamente 1 quilômetro do lixão. “Então, as pessoas que sobrevivem da pesca, os pescadores, as famílias estão sendo atingidas diretamente e é incrível como o poder público não se manifesta, como ele não olha com carinho para várias famílias que estão sobrevivendo diretamente da pesca e da agricultura e é esse descaso com as famílias. É vida do ser humano, são vidas de crianças. O lençol freático está com certeza todo contaminado e como é que  vai ficar a saúde dessas famílias daqui a dez anos, cem anos?”, questiona o autônomo Joilson Vasconcelos.

REUNIÃO: A comissão composta pelos secretários municipais Nélio Aguiar (Planejamento), Podalyro Neto (Meio Ambiente), Edilson Pimentel (Infraestrutura), Rosivaldo Colares (Agricultura e Incentivo à Produção Familiar) e o procurador geral do Município, José Maria Lima, recebeu as lideranças de comunidades do entorno do aterro de Perema. Na reunião, foi discutida a pauta de reivindicações apresentada pelos comunitários sobre o gerenciamento e otimização do local. A Prefeitura informou que, entre as ações emergenciais, está a implantação de medidas de tratamento do chorume no local e que já está em curso a contenção da lagoa de chorume. Já está sendo realizado, também, o processo de cobertura do lixo com material inerte, devendo o serviço ser concluído em até 90 dias. A construção de vala séptica também já está sendo realizada pela Prefeitura. Em relação aos trabalhadores, a Prefeitura está fortalecendo a Cooperativa de Catadores e Recicladores, por meio do projeto piloto de coleta seletiva, que já está em andamento. O objetivo é torná-los parte integrante do processo de gerenciamento de resíduos sólidos.

A comissão informou às lideranças que ainda nesta semana será realizada a primeira análise das águas, que será executada pelo Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), e será realizada em seis pontos: três dentro de Perema e três fora (dentro das comunidades de Miritituba e Castela). A análise será realizada trimestralmente, conforme a legislação ambiental vigente. Sobre o fechamento do local, o principal ponto da pauta de reivindicações, os membros da comissão convidaram as lideranças a fazer parte do Grupo de Trabalho do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que está sendo finalizado pelo Município, a buscar alternativas para a deposição dos resíduos sólidos. A Prefeitura reitera que a proposta é dotar Perema um aterro sanitário, como estabelece os padrões ambientais. Uma nova reunião será realizada no mês de maio, para avaliar o encaminhamento das ações.

CARGILL ESCLARECE
Sobre a matéria publicada no site do O Impacto, gostaríamos de esclarecer que:
A tubulação a que a matéria faz referencia na foto publicada, faz parte da rede de drenagem de água pluvial (água de chuva) do terminal. A empresa enfatiza que não passa esgoto pela tubulação. O terminal da Cargill em Santarém possui uma Estação de Tratamento de Esgoto, operada dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente.
A Cargill destaca ainda que a cada três meses são realizadas análises das águas do Rio Tapajós e que na área de influência direta do terminal não são identificadas alterações.

Fonte: RG 15/O Impacto

Um comentário em “Esgoto da Cargill contamina rio Tapajós

  • 1 de abril de 2015 em 23:49
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    A outrora famosa e encantadora Vera Paz, bem antes da implantação da Cargill, mais servia de reduto de viciados em drogas, estupradores e outros malfeitores que lá praticavam seus atos sem serem importunados pelas autoridades ou ativistas. Onde existe algo que possa inspirar culpa, e de preferência que dê visibilidade, não vai faltar, é claro, quem os acuse de todos os males, presentes e futuros. Mas alguém já se importou tanto, protestou, acionou o Ministério Público, Entidades ou outras Autoridades Competentes para alertá-los sobre as imundices lançadas na praia e nas águas do rio naquela mesma área, oriundas daquela aberração construída em frente ao Mercadão 2000, e do próprio Mercadão? E aquele tablado medieval que chamam de feira, assim como o terminal (está mesmo é pra terminar com o Rio Tapajós) de atracação de barcos da Praça Tiradentes? Já houve protestos contra o despejo de esgotos diretamente no rio? É fácil atacar e culpar empresas que se estabelecem nessa cidade, até porque “cola” qualquer movimento à sua imagem, logo dá visibilidade. Difícil mesmo é cobrar das autoridades, que são as principais responsáveis, por não assumires suas competências.|

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