Milton Corrêa

Santarém 352 anos e a passagem por ciclos econômicos

Momento e que Santarém completa 352 anos de fundação, passeando na Net, encontro no site da Prefeitura da cidade aniversariante, importante artigo sobre os ciclos econômicos da citada autora, que de certo é importante ser publicado novamente, para conhecimento de muitos, que desconhecem esse lado rico que Santarém já viveu. Que tal se voltássemos ao tempo, para experimentarmos tudo de novo e pudéssemos viver épocas que não voltam.

PESQUISA E TEXTO: Tânia Mara Moraes Amazonas – Economista da SEMPLAN e Pós-Graduada Em Planejamento do Desenvolvimento Regional Pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/NAEA/UFPA (As referencias bibliográficas estão na publicação original)

No século XVII a Amazônia foi ocupada por diferentes grupos: pelas expedições militares com o objetivo de proteger os domínios portugueses dos invasores ingleses, holandeses e espanhóis; pelos sertanistas que comercializavam as chamadas “drogas do sertão”; pelas tropas de resgate em busca de mão de obra indígena e pelos missionários que visavam o aldeamento e catequização dos índios. Núcleos, fortificações e missões foram criadas ao longo dos rios da Amazônia (Tapajós, Xingu, Negro, Madeira etc) e houve  ampliação dos territórios.

A História Econômica de Santarém tem seus primórdios nas atividades econômicas desenvolvidas pelos índios tupaius, que antes do conquistador português chegar realizavam a agricultura de subsistência, considerada a mais importante, segundo relato do escritor Felisberto Sussuarana. Este autor afirma que os principais produtos cultivados eram o algodão, o cará, a batata doce, o crajirú, o urucu, o cunambi, o timbó, a pupunha e, principalmente o milho e a mandioca. A pesca e o extrativismo animal também constituíam a economia local do período.

Desde o início da colonização, a economia do Município de Santarém sempre se caracterizou pelos diferentes ciclos que experimentou. As expedições militares dos conquistadores portugueses no século XVII trouxeram as missões religiosas e os colonizadores para a Amazônia. O primeiro ciclo econômico de Santarém foi o das “drogas do sertão” – na Amazônia – cacau, cravo, salsaparrilha, baunilha, manteiga de ovo de tartaruga, pimentas variadas, bálsamo de copaíba, puxuri, anil, guaraná. A mão de obra indígena foi primordial, pois os índios tupaius, além de exímios caçadores e pescadores, eram excelentes coletores das drogas do sertão.

As missões religiosas – comandadas pelos padres jesuítas – desempenharam importante papel nesse processo, pois dependiam dos incipientes recursos da sua produção econômica, resultado do comércio praticado abertamente com o reino de Portugal. Os índios colhiam as chamadas “drogas do sertão” nas matas (cacau, cravo, salsa e guaraná) e às margens dos rios, e armazenavam-nas nos próprios empórios dos Jesuítas, para em seguida serem embarcadas para a Europa, quando fosse possível. Além da coleta das drogas do sertão, outras atividades completavam a economia regional deste ciclo: a pesca, o plantio itinerante nas terras firmes e nas várzeas, a caça e a pecuária nos campos naturais.

A cultura do cacau – principal droga do sertão que até 1677 era colhido na mata nativa – foi a base econômica de Santarém por muitos anos, tanto que no século XVIII, a partir de 1734, a lavoura cacaueira passou a ser o principal produto de exportação, iniciando o segundo ciclo econômico, o Ciclo do Cacau. Data desta época o desenvolvimento da plantação do arroz, que também fora encontrado em estado nativo e transformado em cultura, o cultivo do café, do milho, do feijão, da mandioca, algodão e tabaco.

A historiadora Terezinha Amorim afirma em seu livro “Santarém: Uma Síntese Histórica” que existia um “animado” comércio no início do século XVIII: “Neste comércio era oferecida uma grande diversidade de produtos: peixe seco, peles de animais silvestres, drogas do sertão e quinquilharias indígenas que possibilitavam a circulação monetária na região”.

A economia do século XIX caracterizou-se pelo desenvolvimento da agricultura e do comércio, tendo como principais produtos comercializados a castanha, a salsaparrilha, a farinha, o peixe salgado, o cacau, o óleo de cumarú, a borracha e o algodão.

O algodão era exportado, através dos vapores para a Inglaterra, Portugal e Alemanha. O cumarú, utilizado pela indústria de medicamentos e cosméticos, era extraído do Vale do Tapajós e exportado para o exterior e outros centros do Brasil.

Mas o produto de maior aceitação no mercado mundial, no século XIX, foi, sem dúvida, a borracha. As extrações de látex eram provenientes do Alto Tapajós, próximo à Santarém e Alter do Chão. Este período é marcado pela urbanização da cidade e pelo crescimento da economia regional, sendo identificado como o terceiro ciclo econômico, o Ciclo da Borracha, impulsionado pela descoberta da vulcanização, em 1839, pelo químico Nelson Goodyear, transformando o produto em um bem de grande valor industrial para o setor automobilístico.

A supremacia deste produto se estendeu até a primeira década do século XX, quando aconteceu o declínio das exportações devido à entrada da borracha asiática nos mercados Americano e Europeu, causando uma crise econômica e social sem precedentes na história do Município, com impactos negativos no comércio, na agricultura, no emprego, no sistema de transporte fluvial etc.

No século XX, Santarém experimentou diferentes ciclos econômicos. Na segunda metade da década de 30 e início da década de 40, a cultura da juta se desenvolveu na região para atender os mercados interno e regional de fabricação de sacarias para embalagens de produtos diversos, inaugurando o quarto ciclo econômico, o Ciclo da Juta. As receitas do município foram incrementadas com a instalação de fábricas, pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais. O livro “Santarém: Uma Síntese Histórica” registra: “A exportação de juta cresceu a partir de 1942, com um volume de aproximadamente 150.000kg anuais. No ano seguinte , o volume saltou para quase 630.000Kg, e, em 1944, para o equivalente a 820.000kg, a maior quantidade exportada de Santarém”.  Continua na próxima edição…

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