Operação contra Lobão Filho: Dilma pode pagar o pato

Lobão Filho e sua comitiva
Lobão Filho e sua comitiva

Se o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, não apresentar ao PMDB uma explicação razoável para a operação que a Polícia Federal fez na quarta-feira contra o candidato do partido ao governo do Maranhão, Edson Lobão Filho, o caldo pode entornar e Dilma pode pagar o pato na relação com o maior partido de sua coalizão.

Cardoso não sabia da operação policial de quarta-feira à noite no aeroporto de Imperatriz: Lobão Filho e sua comitiva foram abordados por agentes fortemente armados que os revistaram e vasculharam bagagens em busca de um grande volume de dinheiro de campanha não-declarado. Nada encontraram. Os agentes disseram estar averiguando a procedência de uma denúncia anônima e perguntados por Lobão se tinham mandado judicial, disseram que sim, mas não o apresentaram.

Na quinta-feira, Michel Temer soltou uma dura nota de protesto e falou em “instrumentalização da PF”. Renan Calheiros, presidente do Senado, fez eco e falou e intimidação do candidato. Eles não atacaram (ainda) a corporação mas suspeitam que um grupo da PF agiu com motivação eleitoral para detonar o candidato peemedebista. A Michel, o ministro prometeu apurar o que aconteceu e lhe dar uma satisfação.

Para compreender a indignação da família Sarney e do PMDB vale recordar os antecedentes de 2002 e o quadro eleitoral atual. Naquele ano, Roseana Sarney liderava as pesquisas para presidente quando foi detonada pela Operação Lunus: a Polícia Federal invadiu a empresa de seu marido e lá encontrou mais de um milhão de reais. As fotos da montanha de dinheiro foram amplamente divulgadas e a candidatura de Roseana virou pó. O ex-presidente José Sarney e seu clã culparam o então ministro da Saúde e presidenciável tucano José Serra pela operação e se vingaram. Embora o PMDB tenha apoiado o tucano oficialmente na eleição presidencial, eles (e outros caciques regionais do PMDB) apoiaram Lula, que derrotou Serra.
Sarney foi um aliado fundamental de Lula em seus dois governos, especialmente nos momentos difíceis de 2005, no auge da crise do chamado mensalão. Mas este ano, embora o PT maranhense tenha apoiado formalmente o candidato da família, Lobão Filho, uma ala de dissidentes petistas vem apoiando o candidato Flavio Dino, do PC do B, coligado também com o PSB e o PSDB. Sarney não perdoa a “ingratidão”. Pior, seu candidato está em segundo lugar e o comunista pode até ganhar no primeiro turno, pondo fim ao longo domínio político de seu grupo no estado. Para o PMDB, a operação tem jeito e cheiro de ser coisa dos dissidentes petistas aliados aos comunistas. Provas não há, mas o mal estar é grande.

Dilma pode pagar o pato se o sarneysismo, revoltado, descarregar votos em outro candidato a presidente. Sarney é alérgico a Marina Silva mas tem boas relações com Aécio Neves. A outra consequência pode ser política, e não eleitoral. As relações PT-PMDB esgarçaram-se demais na campanha eleitoral nos estados, o que se refletirá na futura coalizão parlamentar. Se Dilma for reeleita, continuará precisando se entender com um PMDB lanhado e ferido para recompor sua maioria parlamentar. O partido ainda não deglutiu uma investida recente da PF contra o candidato no Ceará, Eunício Oliveira, e uma revista sofrida por sua mulher durante uma viagem doméstica. Se o PMDB fizer a maior bancada, poderá eleger para a presidência da Câmara o temível líder Eduardo Cunha. Mas isso, ainda depende dos eleitores.

Certo é que a operação de Imperatriz foi atípica, desnecessária e lamentável. Não é a Polícia Federal, mas a reforma política, que pode moralizar o financiamento das campanhas eleitorais.

TEMER E RENAN ACUSAM PF DE INTIMIDAR SENADOR LOBÃO FILHO

O presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmaram na quinta-feira (25), por meio de notas oficiais, que a Polícia Federal (PF) agiu de forma “intimidatória” ao abordar o senador Edison Lobão Filho, candidato peemedebista ao governo do Maranhão, no aeroporto de Imperatriz (MA).

De acordo com o comunicado de Temer, os policiais federais teriam abordado o parlamentar maranhense para apurar denúncia anônima. A nota não informa qual seria o alvo da operação policial.

O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da direção da Polícia Federal, mas o órgão informou que não divulgará nota com esclarecimentos sobre o caso.

Segundo o Blog do Camarotti, após conversar com Temer por telefone, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – responsável pela Polícia Federal –, informou ao vice-presidente da República que investigará a denúncia de que a corporação intimidou o candidato do PMDB ao governo maranhense. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça informou que Cardozo encaminhou ofício ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, determinando “apuração rigorosa do fato”.

A nota divulgada porTemer relata que o senador do PMDB – que é filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão –, foi abordado por policiais federais armados no aeroporto do interior maranhense na noite desta quarta-feira (24).

Ainda segundo o vice-presidente, a Polícia Federal fez uma busca por supostos recursos ilegais de campanha na aeronave, nos automóveis e na bagagem de Edison Filho e de membros da comitiva que o acompanhava. O diretório nacional do PMDB, destacou Temer, “repudia” a ação da Polícia Federal”.

“Sob o pretexto de buscar recursos ilegais de campanha, foram feitas buscas na aeronave, nos automóveis e na bagagem dos membros da comitiva, numa ação intimidatória que, ao final, nada encontrou de irregular. O procedimento foi baseado em denúncia anônima durante o curso da disputa eleitoral intensa”, afirmou o vice-presidente.

De acordo com o Blog do Camarotti, Temer ligou para o ministro José Eduardo Cardozo depois de ter sido alertado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) e pelo ministro Edison Lobão de que agentes da PF haviam feito buscas na aeronave, nos automóveis e nas bagagens da comitiva de Lobão Filho.

Na nota divulgada na tarde desta quinta, o presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou que Edison Lobão Filho, seu colega de partido, foi abordado de forma “intimidatória e anômala”. Renan Calheiros afirmou que ações desencadeadas com base em denúncias anônimas, em pleno processo eleitoral, só se prestam a “explorações políticas”.

“As instituições brasileiras devem estar zelosas de suas funções sem, entretanto, descambar para a exploração político-partidária”, ressaltou Renan na nota.

Representação
Na tarde desta quinta, advogados da coligação pela qual Lobão Filho concorre ao governo do Maranhão protocolaram representações no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MA).

Eles pedem esclarecimento sobre a ação da PF, que teria abordado o candidato sem a devida documentação, e investigação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), requerendo punição de eventuais responsáveis por conduta irregular.

Leia a íntegra das notas de Temer e Renan:

Nota à imprensa
O diretório nacional do PMDB repudia a ação de integrantes da Polícia Federal, que abordaram de armas em punho a comitiva do candidato a governador do Maranhão, senador Edison Lobão Filho, no aeroporto da cidade de Imperatriz na noite desta quarta-feira.

Sob o pretexto de buscar recursos ilegais de campanha, foram feitas buscas na aeronave, nos automóveis e na bagagem dos membros da comitiva, numa ação intimidatória que, ao final, nada encontrou de irregular. O procedimento foi baseado em denúncia anônima durante o curso da disputa eleitoral intensa.

No estado democrático de direito é inadmissível que forças policiais sejam instrumentalizadas para atingir candidaturas legitimamente construída.

Michel Temer
Presidente Nacional do PMDB

Nota à imprensa
O senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA) foi abordado de forma intimidatória e anômala quando regressava de uma atividade político-partidária no interior de seu Estado.

Edison Lobão Filho é um senador no exercício de suas atividades político-partidárias. Ações desencadeadas com base em denúncias anônimas, em pleno processo eleitoral, só se prestam a explorações políticas.

As instituições brasileiras devem estar zelosas de suas funções sem, entretanto, descambar para a exploração político-partidária.

Senador Renan Calheiros
Presidente do Congresso Nacional

Fonte: Tereza Cruvinel e G1

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