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Humorista José Otávio

José Otavio Junges, Apresentador do programa de humor “Muiraquitã” que estreou no dia 04 de agosto na tela da RBA/TV Santarém, é o nosso entrevistado da semana. Algumas pessoas provavelmente já se depararam pelas ruas de Santarém com a equipe do programa, aliás, impossível que a turma do Muiraquitã, comandada por José Otávio, não chame atenção. Ora na pele de Bin Laden, ora na pele do repórter louco Bod Marley, e de tantos outros personagens, irreverência e humor são o que não faltam ao Gaúcho de Teutônia, que aprendeu a fazer humor dentro de um avião. Trezes anos foram dedicados à aviação e com isso o comissário de voo começou a  fazer stand up e até shows musicais dentro dos aviões da Varig. Confira nesta entrevista a visão do que é fazer um bom humor.

JS: Fale-nos sobre a nova tendência de fazer humor que é o Stand Up Comedy?

JO: O stand up vem ganhando força ao longo da última década por ser de fácil execução, não há necessidade de cenário, efeitos ou elenco. O stand up é muito antigo e Chico Anísio consagrou-se ainda novo num espetáculo exatamente igual aos moldes atuais do stand up. Outros nomes  do stand up são Eddie Murphy, genial nos seus stands; Martin Lawrence é outro nome hollywoodiano que nasceu nesse gênero que veio pra ficar e ganha cada vez mais adeptos.

JS: Toda piada tem um alvo?

JO: Certamente o alvo das piadas é o riso, não são o português ou a sogra, mas o público que está ali a espera de entretenimento.

JS: Nem tudo vira piada ou tudo vira piada?

JO: Tudo vira piada na cabeça do humorista, às vezes não podemos externá-la, pois sabemos que a sociedade do “politicamente correto” discrimina demais e podemos nos tornar vítimas de um processo ou de uma interpretação maldosa. O cadeirante e o anão, por exemplo, não podem mais ser alvo de piadas, e isso pra mim é discriminação, pois torna-o um excluído, enquanto isso todo o resto da população de maridos, solteiros loiras e donas de casa têm o direito de virar piada garantido, eles devem permanecer apenas com o rótulo de coitadinhos, pois nem pra piada servem. Um preconceito discriminatório que reflete bem nossa sociedade que buscando tornar o diferente igual aos outros nega o direito de ser igual a quem demonstra qualquer diferença física ou ideológica.

 JS: Qual seu ídolo no humor brasileiro e por quê?

JO:  Chico Anísio com certeza, gosto muito do humor de personagem e sei como é difícil criar e alimentar um outro ser dentro de nossa psique, e o Chico foi imbatível criando muito mais de 100 personagens bem construídos e vivendo harmoniosamente dentro dele. Além disso, foi o precursor do stand up no Brasil, um verdadeiro gênio que no final da vida ainda garantiu emprego a vários artistas esquecidos da velha guarda do humor brasileiro em sua escolinha, copiada até hoje.

JS: O que é o melhor do humor e a pior dificuldade de fazer humor?

JO: O melhor é o riso da platéia; o pior é o silêncio; o melhor é estarmos felizes e apenas contagiar o público com nossa própria felicidade. O pior é deixar um filho doente em casa com a obrigação de fazer rir uma platéia de 150 pessoas. Fazer rir muitas vezes é um drama.

JS: Como são criados seus personagens e como se prepara para eles? Como é inventar situações novas sempre?

JO: O “Gayúcho” foi minha primeira personagem e nasceu inspirado nessa necessidade de demonstrar-se macho que o gaúcho tem, depois que você cria um perfil psicológico e um passado consolidado para sua personagem, ela torna-se viva em você e cresce paralelamente a você mesmo, é quase um transtorno de personalidade, pois você se permite ver determinados acontecimentos sob a ótica da personagem e não mais a sua própria, quando sua personagem forma uma opinião distinta da sua própria, ela está pronta. Outras personagens nascem pelo ventre da indignação como o próprio Walt Disney que nasceu da revolta de sempre ver o nordestino sendo retratado como burro, então, criei um nordestino que apesar de manter sua inocência e seus maneirismos culturais é extremamente inteligente. Depois disso pronto e enraizado em mim, são eles os responsáveis pelas situações novas, eu apenas empresto meu cérebro a outra personalidade.

JS: Você se lembra da primeira piada que contou? Se sim, qual e como foi a reação das pessoas?

JO: Quando ainda era muito pequeno gostava de contar as piadas do Joãozinho, mas a primeira piada que lembro ter causado uma reação especial, foi sobre uma freira que era perseguida por um tarado e ao ver-se encurralada acabou por levantar a saia e o tarado por baixar a calça, os olhos dos adultos quase pularam das órbitas antevendo algum tipo de palavrão, moral da história: Uma freira de saia levantada corre muito mais que um tarado de calça arriada, vendo a inocência da solução encontrada pela freira todos explodiram em riso e aquela sensação me tomou de vez. Até hoje evito contar piadas que sejam baseadas em palavrões.

JS: Rir é o melhor remédio para o ser humano?

JO: Sem dúvida, além dos benefícios clinicamente comprovados, rejuvenescimento facial e o fato de 30 minutos de risadas serem equivalentes a (pasmem) 70 abdominais, o riso lava a alma e torna mais leve a condição humana de compromissos, metas, deveres e afazeres que nunca acabam ao longo de nosso viver, rir é dar folga à seriedade do viver, rir é lavar a alma em pura alegria.

JS: Sérgio Rabelo considerado pela crítica como o mais criativo humorista brasileiro falou em uma entrevista que “são raros os programas de humor com bons roteiristas, e quando um humorista não se mostra engraçado, ele torna-se chato e ninguém o respeita”. Qual a sua análise sobre isso?

JO: Roteiristas de humor são raros sim, e não só como roteiristas, mas somos todos humanos e algumas vezes até mesmo um excelente roteirista pode passar semanas sem produzir uma linha realmente engraçada. Além disso, os públicos são diferentes e o que funciona muito bem para um, não funciona para outro. Lembro de uma entrevista do Tom Cavalcante, que após um show em Curitiba, saiu frustrado, pois o público não riu do humor nordestino que lhe é característico. Faz parte da profissão, um humorista só perde o respeito dos colegas quando perde o respeito com o próprio trabalho e com o público.

Foto: José Otávio: humorista

By Jorge Serique

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